quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Nokas começa a sorrir

Confissões três meses depois da lesão

Bávaro está a recuperar bem

No dia 2 de Dezembro, diante do Porto Cruz, sentiu a dor provocada pela rotura completa do cruzado anterior e viu a vida andar para trás. Foi preciso recorrer a toda a sua força interior – e das pessoas que o acompanharam – para vencer a crise existencial e reagir. Já se passaram três meses, e, finalmente, Nokas começa a sorrir, tal a evolução que tem vindo a registar na recuperação. A cicatriz no joelho direito promete ser agora o único elo de ligação com um passado recente sofrido que muito o perturbou.

- O que pensa quando reflecte sobre o que aconteceu?
- Penso no sofrimento que passei, ansiedade, angústia e muitas incertezas. A dor da lesão propriamente dita e todas as complicações daí inerentes, sobretudo a nível profissional. Foi uma tortura diária e fui-me abaixo.
- Como é que os seus pais lidaram com a situação? E, neste momento, apoiam-no ou fazem pressão para que deixe de jogar?
- A família foi incansável. Fizeram tudo para não me ir abaixo e ajudaram-me desde o começo. O meu pai continua a dizer que vou voltar a jogar, pois o Bayern precisa de mim [sorriso]. A minha mãe olha com desconfiança e tem receio que me possa voltar a magoar. É normal.
- Com apoio familiar, tudo fica mais fácil...
- Sem dúvida. Têm sido fantásticos. A minha mana passa a vida a pôr-me gelo [sorriso] e em relação à minha cara metade simplesmente não há palavras. Deu-me a sopinha no dia em que fui operado [sorriso]. É a mulher da minha vida.

“Vi quem são os verdadeiros amigos”

- Isso leva-nos ao tema do casamento. A Sandra poucas vezes tem assistido aos jogos mas pelos vistos está mesmo presente quando tem de ser...
- É difícil falar sobre o que tem feito por mim. Aturou e atura todas as minhas paranóias, dúvidas, deu-me sempre moral e confiança. Foi a que esteve mais próxima de mim durante este período e a que sabe verdadeiramente o que passei. Além disso, ajudou-me a tomar banho [sorriso]. Ajudou-me no momento em que mais precisei.
- Se fosse um jogador dizia já para a contratar. Sendo “apenas” a mulher da sua vida, imagino que esteja ansioso por se casar. E aposto que vai querer todos os seus amigos por perto nesse dia tão especial...
- Há sempre um pouco de ansiedade, admito. E claro que vou querer todos os meus verdadeiros amigos à minha beira. Os outros não interessam.
- Há amigos e amigos...
- Sim, é verdade... e é nas situações em que estamos por baixo que vemos os verdadeiros amigos e quem se interessa por nós. Quando estamos sensíveis, uma palavra muda tudo. E é nessas alturas que precisamos sentir que existem pessoas que se preocupam connosco. Amigos para a jabardice, há muitos, mas amigos nas horas complicadas há poucos.

“Até ao casamento, não jogo”

- Não precisamos de ser génios para adivinhar que um dos seus primeiros pensamentos e que, se calhar, se arrastou por algum tempo, quando soube da gravidade da lesão, foi “deixar de jogar a bola”. Neste momento ainda põe em causa a sua continuidade como jogador?
- Até ao dia 7 de Julho, não jogo de certeza, porque não quero arriscar ter mais algum azar antes do casamento. Isso é um dado adquirido. Depois, logo se verá. Claro que pensei em deixar de jogar, porque naquela altura a prioridade é voltar a andar e nem sequer se pensa em correr ou jogar. Queria e quero mesmo é voltar à minha vida normal.
- Mas depois de 7-7-2007?
- Vontade de jogar não me falta, agora o que sinto é que dificilmente voltarei a ser o mesmo. Aliás, já fui avisado pelo médico que o enxerto que me colocaram (semi-tendinoso) facilita a recuperação, mas é mais frágil que o tendão rotuliano. Logo, terei de ter sempre muito cuidado e fazer muita musculação (ajuda a sustentar e proteger o novo ligamento) para continuar a praticar desporto.
- Sentes-te mais compreensivo agora em relação à situação do Nuno?
- Fui sempre compreensivo em relação à situação do Capitán, sempre dei valor ao esforço dele. Não foi por ter passado por isto que lhe dou mais valor, pois já sei o que ele sofre para estar sempre presente. O Capitán tem um coração de ouro e suporta o sofrimento, porque jogar a bola dá-lhe prazer e ainda mais por ser no Bayern, onde tem amigos.
- Habitualmente, o Nuno apresenta queixas, mas continua a jogar com maior ou menor esforço. Contigo foi bem diferente...
- Não tem comparação.

“Só pedia a Deus para me ajudar”

- Sentiste imediatamente que tinhas feito uma lesão grave?
- Imediatamente. Senti um estalo muito forte e, naquele momento, só pedia a Deus para me ajudar.
- Mas já não é a primeira vez que tens problemas no(s) joelho(s)...
- Sim, mas nunca desta natureza. Tive um problema no menisco interno do joelho esquerdo, mas acabei por recuperar, embora tenha demorado mais tempo do que se previa. Esta situação é completamente diferente.
- Falaste em Deus há pouco. És mesmo crente ou trata-se apenas daquele cliché do jogador de futebol que se benze antes de entrar em campo?
- Sou crente. Tenho a minha fé e falo com Ele à minha maneira.

“Faço fisioterapia todos os dias”

- O que te lembras da operação?
- Lembro-me que no momento em que entrei para a sala de operações, pensei no meu casamento e imaginei a minha noiva a entrar na igreja [sorriso]. Lembro-me depois no recobro de estar a falar de filmes com os enfermeiros que estavam ao meu lado. Também me lembro que quando cheguei ao quarto estavam lá os meus pais e a minha irmã. E, claro, lembro-me do Tony e do Capitán terem ido visitar-se à noite e o grande António ter desatado a tirar fotos para actualizar o blog [sorriso].
- Dificuldades pós-operatório?
- Tomar banho era um filme. Obrar sem conseguir dobrar a perna era outro [sorriso]. Experimentem em casa e depois digam qualquer coisa. A perna parecia que pesava 500kg. Mas, aos poucos, o quadro foi melhorando.
- Actualmente, muita fisioterapia?
- Todos os dias. Fui operado a 18 de Janeiro, uma 5ª feira, e na semana seguinte comecei logo a fisioterapia. Desde aí tem sido todos os dias. Fins-de-semana e feriados não são excepção. Mais uma vez, tenho de agradecer ao meu pai e à minha pitéu, que têm andado comigo de lado para lado. E há outras pessoas que também quero mencionar e que estarei eternamente grato, mas não pode ser já.

“Saudades do balneário”- No teu rico historial, és com 74 jogos, de longe, o atleta mais utilizado no Bayern, estatuto que deverás perder nos próximos meses. Algum sentimento especial?
- Não ligo muito ao estatuto. Só tenho pena de não estar disponível para jogar, devido a lesão. Sinceramente, não me preocupa deixar de ser o primeiro ou segundo atleta mais utilizado.
- Mas a marca é motivo de orgulho?
- Naturalmente! Isso nem se coloca em causa. O Bayern estará sempre no meu coração. Já vivi lá grandes momentos e boas palmadas. Tenho muitas saudades da alegria e outras coisas do balneário [sorriso].
- Já nos golos, com 95 marcados, pareces estar num patamar inatingível...
- Não sabia que estava tão próximo dos 100...
- Essa barreira dos 100 golos ficará para depois do casamento?
- Sim, sim, porque como já expliquei até lá não jogo. Com muita pena minha, vou falhar o Torneio da Académica de Leça, prova que dá sempre muito gozo em participar.

“Resultados aquém das expectativas”

- Também nas assistências tens 56, mais 30 do que Domingues…
- É uma questão de qualidade [gargalhada]. Mas ouvi dizer que o Mingues tem evoluído a cada dia que passa.
- Consideras-te um jogador só de ataque?
- Não, claro que não. Quando é preciso defender, também sei fazê-lo. Acontece que no Bayern joguei sempre numa posição mais avançada, perto da baliza, daí os golos e assistências acontecerem mais frequência. Mas se for preciso também sei jogar a fixo.
- No 9º Torneio do CAC, foste o melhor marcador da equipa e segundo melhor marcador do torneio com 15 golos e ainda por cima considerado bávaro de ouro. Como viste agora a entrada da equipa nesta competição e o que sentiste por não haver uma única linha a falar de ti na crónica do primeiro jogo?
- Não ter havido uma única linha magoou-me, pois naquela fase estava muito frágil. Quanto à prestação da equipa, os resultados mostram que ficamos aquém das expectativas. E pior do que os resultados, foram os episódios de má organização que se sucederam, algo que o Bayern não está habituado. No ano passado, fizemos realmente um excelente torneio, com exibições muito positivas. E sinto que também estive bem, mas a organização não achou o mesmo [sorriso]...

“Ainda não ganhei coragem”

- Não tens assistido aos jogos do Bayern. Porquê?
- Porque sei que me vai custar muito Ainda não ganhei coragem para ver novamente um jogo da minha equipa. Mas, em breve, espero estar presente... na bancada.
- Como avalias o actual momento da equipa? Depois da tua lesão o Bayern somou duas vitórias, um empate e duas derrotas. 47% dos pontos em disputa portanto, quando o saldo médio da equipa está em 66%. A diferença está em Arnaldo?
- Sei que conseguia fazer a diferença, quando estava bem fisicamente. Mas não consigo responder com muito rigor a essa pergunta, pois não tenho visto os jogos. Acho que a falta de organização está a reflectir-se nos resultados. Isso sim, pode estar a fazer a principal diferença. Depois, o meu substituto, o Correia, também acabou por se lesionar. Se calhar, precisamos de ir ao mercado.
- Nos últimos tempos é quase uma tradição – jogador que está lesionado vai para treinador. Aconteceu com Tony e recentemente nos últimos treinos com o Domingues. Não te parece que este procedimento torna o Bayern um clube mais amador do que o desejável?
- Sim, estou de acordo. Deveria ser um elemento com mais experiência e capacidades na área técnica. Esta situação começa a ser uma espécie de tradição e própria dos clubes onde reina a paixão e amizade, mas para obter vitórias nos próximos torneios, se calhar, não chega.

“Um lugar no top-four”

- Falou-se que podias orientar a equipa neste torneio...
- Seria uma motivação extra pra mim, mas penso que deverá ficar pra outra altura (em que penso não estar lesionado), pois neste momento a fisioterapia ocupa-me todas as manhãs. Caso contrário, podiam contar comigo. Com todo o gosto e muito orgulho.
- Quer dizer que não vais querer orientar o grupo?
- Quero orientar o grupo. Acho é que não vou ter disponibilidade.
Seria uma honra orientar o meu Bayern. Mas o mais provável nesta fase é que não possa. Mas sei que um dia isso irá inevitavelmente acontecer.
- E que hipóteses terá uma equipa do Bayern sem poder contar com Arnaldo, Correia e Cadu (que ainda não está confirmado)?
- Depende muito das outras equipas. Acho que somos candidatos a um lugar no top-four e à Taça Disciplina. O primeiro lugar vai ser difícil, mas não impossível.

“Bayern precisa de Homens”

- A menos que esteja reservada alguma surpresa, parece-me que haverá aqui um grande défice atacante. Quem terá a responsabilidade de marcar golos?
- É um problema.... para o mister Coutinho resolver. O Mingues seria uma boa opção, mas faz falta no transporte de bola, das alas para o ataque. Sinceramente, não sei, mas, às vezes, é bom não depender de ninguém.
- Ainda agora no torneio do CAC, a equipa marcou apenas 9 golos em 5 jogos, uma média inferior a 2 golos por jogo, algo que nunca aconteceu...
- Que posso dizer? Que faço falta? Faço! [sorriso] Mas só conta quem pode jogar.
- Que te parece a hipótese Bizkoito?
- É muita ganza na cabeça. Não me parece mal, mas é aquele tipo de jogador que pode aparecer numa semana e desaparecer noutra. Acho que deviam existir outras alternativas. Mas, atenção, não coloco em causa a sua qualidade como jogador.
- Rui Sá é dado como um dos mais fortes candidatos a preencher uma vaga no plantel. Conheces o jogador?
- Conheço e agrada-me a sua capacidade combativa. Além de tudo, parece-me um verdadeiro Homem e o Bayern precisa de elementos desse calibre. Chavalada já estamos cheios.

10 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada Tony.

Anónimo disse...

uma entrevista de campeao! naldo fazes falta ao grupo mas o mais importante é o teu bem estar! por isso recupera bem qe depois tudo acontece naturalmente! nem que vás para a Baliza!!

Anónimo disse...

Obrigada também ao meu amor. Amo-te

Tony Silva disse...

Não fiz nada de especial. Apenas fiz aquele passe atrasado que em ulima instancia deu origem a esta entrevista :)

Agora a serio, faço notar que esta é a primeira "live interview" que fizemos. Antes mandavamos as perguntas por email e ficavamos a aguardar as respostas. Desta vez foi tudo feito em tempo real pelo messenger ;)

Quanto ao Naldo, é um senhor!
Não pensei que iria estar tão entusiasmado novamente com um torneio como acontece actualmente, mas se ele estivesse presente, muito mais entusiasmado estaria.

Anónimo disse...

De facto, aquele passe António... :) Aconteceu, n voltes é a fazer o mesmo :)

Só queria tb agradecer as inúmeras sms de apoio q recebi durante este período e a chamada que recebi do nosso colega João do Portus - 87.

Anónimo disse...

fdx... kem é q gasta dinheiro ctg?

Tony Silva disse...

Crl Jonny, ainda vais a tempo de ser irradiado!

Anónimo disse...

Naldo no seu melhor.
Uma grande entrevista de um grande homem e de um grande jogador.

PS: O Toni António já se tá a fazer ao lugar no casamento do Naldo...como faz no BM.....senao vejam....

"imagino que esteja ansioso por se casar. E aposto que vai querer todos os seus amigos por perto nesse dia tão especial..."

...e mais nao digo. :)

Anónimo disse...

E tá lá de certeza! Quem me foi ver ao hospital e teve a oportunidade de privar com as enfermeiras tem lugar garantido no acontecimento do ano :) Por isso, Capi tb n te safas :)

Anónimo disse...

Arnaldo espero que recuperes rápido e que possas continuar a participar nos nossos jogos de segunda.Um Grande abraço Cheio de melhoras!Que tudo corra bem.
Rúben pereira (ac miragaia).