“A minha queridíssima esposa tem sido tudo para mim”

Capitán – Quatro meses após a grave lesão do tendão rotuliano

Finalmente, a entrevista que se impunha. A 1 de Março, quando saiu de casa para mais um jogo do Bayern, Capi estava longe de imaginar que só voltaria ao lar 11 dias depois, já com uma intervenção cirúrgica no lombo. Nesse final de manhã triste, no Pavilhão da Torrinha, diante do Hotel Meridien, o seu joelho esquerdo arrebentou. Bastou um lance em esforço, com pancada no calcanhar do adversário, acompanhado por um grito de dor lancinante para que, os mais atentos, percebessem a gravidade do problema.

A lesão à Ronaldo (rotura total do tendão rotuliano) obriga Capitán a enfrentar um longo e desgastante processo de recuperação, cenário que encara com algum optimismo, devido à sua forte personalidade. Actualmente, o Hospital Santos Silva, em Gaia, é palco de romagens diárias, onde realiza as indispensáveis sessões de fisioterapia. Uma nova rotina que alterou o quotidiano habitual. “Com sacrifício, posso voltar a jogar”, diz a meio de uma conversa “on-line” onde se tentou perceber o estado de espírito do carismático bávaro. Forza, El Gran Capitán!

Recorda-se do momento em que sofreu a lesão?
Recordo-me da pancada, de levar a mão ao joelho e pensar que havia qualquer coisa de errado. Mas pensei que era uma questão de ir ao hospital, dar uns berros, colocar tudo no lugar e problema resolvido.
Então quando tomou consciência da verdadeira dimensão do problema?
Quando o médico me disse que provavelmente tinha rompido o tendão rotuliano e tinha de ser operado.

Sentiu raiva? Ou apenas angústia?
Raiva não. Primeiro, senti dores e depois senti frustração. Porque sabia que este problema poderia ter acontecido antes. Nunca o tratei e deveria tê-lo feito antes dos joelhos se sentirem tão fragilizados.
Como assim? Segundo nos disse a lesão não teve propriamente a ver com as outras mazelas que tinha, até porque tudo surgiu na sequência de uma pancada.
Pois, mas pelos vistos as mazelas contribuem para que os joelhos não estejam a 100%. Lembrem-se que a lesão que tive foi a mesma do Ronaldo. E ele também sempre teve problemas de tendinites, o que leva a que os joelhos estejam mais fracos que o normal.
Tem pesquisado na net sobre a situação do Ronaldo?
Pesquisei. Ele até já teve o mesmo problema no joelho direito. Mas são situações diferentes. Não jogo como ele, não sou profissional e não temos o mesmo salário.
Este é um dos piores momentos da sua vida?
É um dos piores. Só o simples facto de ter de depender de terceiros quando até agora era eu que desenrascava toda a gente faz-me muita confusão. Para além do facto de saber que só daqui a um ano é que posso tornar a experimentar dar uns toques numa bola. É muito difícil.

“Não adianta pensar negativo”

O período passado no hospital serviu para reflectir?
Serviu para pensar em muita coisa que não nos damos conta em situações normais. Senti apoio das pessoas mais chegadas. Família, amigos, tive o apoio de quem sabia que iria ter. Sei com quem posso contar.
Desilusões?
Como disse, sabia de antemão quem seriam as pessoas que se iriam preocupar. Por isso, não tive desilusões.
Está mentalizado para sofrer mais um pouco?
Estou mentalizado para isso e muito mais. O pior já passou e agora tenho de pensar que tenho de recuperar depressa custe o que custar.
Onde vai buscar forças?
É a minha personalidade.
Não houve quebras em nenhum momento? Nem quando estava cheio de dores após a operação?
Não me adianta pensar negativo, mas no pós-operatório foi muito complicado em termos de dores. Por isso fui-me um abaixo durante dois dias.

“Eu, treinador? Completamente absurdo”

E em casa? A sua mulher tem sido uma heroína?
A minha queridíssima esposa tem sido tudo para mim. É uma valente. Não arranjava outra como ela.

E tem compensado a dedicação da sua mulher com alguma tesão? Ou continua a afirmar que a picinha mirrou?
[Sorriso] Calma com as perguntas.
Terá sido da anestesia?
Palhaço.
Quantas vezes teve relações após a lesão?
Neste momento, ainda é tudo uma aventura. Coisas simples tornam-se complicadas. Fizemos duas vezes, mas não deu muito jeito.
Faz questão de marcar presença nos jogos do Bayern. Até tem sido o cronometrista nos últimos tempos, mas os seus colegas querem é vê-lo dentro do campo, independentemente do tempo que vai demorar…
Com espírito de sacrifício, vou voltar a jogar, embora com isso vá tirar o lugar a um deles [sorriso]. Mas vai demorar algum tempo a ganhar confiança e, para já, não vale a pena pensar nisso.

Alguns abutres equacionam a possibilidade de você ser o futuro treinador. É absurdo falar-se nisso?

Completamente absurdo. Não consigo deixar jogadores no banco. Começo a chorar.
Levou 46 pontos no joelho. Não quer usar esse número quando voltar às quatro linhas?

Não. Lembra-me uma coisa má. Além disso são dois dígitos e o equipamento fica mais caro.
A enfermeira Soninha foi muito importante, não é verdade?

É verdade. Cuidou da minha cicatriz quando mais precisava. Tenho muito a agradecer à Soninha.